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Os riscos da eleição de 2018

Foram as mudanças institucionais aprovadas pelo Congresso Nacional que deram à Polícia Federal e ao Ministério Público os instrumentos para realizar com eficiência as suas missões. Elas revelaram-se importantes para a desmontagem dos incestos entre “políticos” do Executivo e do Legislativo com grandes organizações do setor privado.

A Operação Lava Jato é um processo de aprendizado da utilização concreta daqueles instrumentos, o que explica alguns dos seus excessos. Mas foi por obra da política e dos mecanismos que ela criou é que a Lava Jato pode se transformar num ponto de inflexão na história do Brasil.

Depois dela o País nunca mais será o mesmo. Causou, talvez, alguns inconvenientes de curto prazo, mas abriu uma ampla avenida de cooperação legítima e ética entre o Estado e o setor privado, num jogo cuja soma, a experiência mostra, é positiva. Adicionou um elemento permanente à nossa capacidade de construir o desenvolvimento econômico robusto, inclusivo e sustentável.

É lamentável que, no imbróglio em que nos metemos, passou-se a condenar o exercício da política e não os “políticos” que o fizeram. Isso é um erro que dá lugar a aventureiros e propostas de mudanças radicais que a história mostra que sempre terminam no caos.

A situação econômica está melhorando lentamente, graças às medidas tomadas pelo governo Temer. Até seus críticos mais ferozes têm dificuldade crescente de negar esse fato. Não é nada extraordinário: uma boa política econômica, apoiada numa safra agrícola excepcional e um estímulo bem imaginado para o consumo das famílias, deu partida a uma recuperação cíclica que pode produzir crescimento próximo de 1% em 2017.

Graças à enorme capacidade ociosa na indústria, talvez possamos ter recuperação de 2% ou 3% em 2018, dependendo do crédito e do câmbio. O retorno ao investimento, sem o qual não há crescimento sustentável, ainda é para o futuro.

A nova denúncia contra Temer e dois ministros tem altíssima probabilidade de ser recusada, como foi a anterior, mas colocará dúvidas e incertezas que poderão abortar a recuperação da economia, com gigantesco prejuízo para a sociedade brasileira.

Deveria ser evidente que, respeitando os “princípios” (pois Temer poderia ser investigado a partir de 1º de janeiro de 2019, respondendo no juízo de primeira instância como um cidadão comum, sem proteção de foro e o melhor seria sobrestá-la até 31 de dezembro de 2018), ela deveria ter recebido maior reflexão.

Incontroláveis consequências possíveis da confusão na Câmara de uma denúncia “conjunta” provavelmente acabarão de volta ao STF.

A grande pergunta é: por que tanta preocupação com um resultado positivo do governo Temer, apesar da pouca popularidade, da selvagem oposição ideológica de alguns e da pouca inteligência e sensibilidade de outros, cujos partidos estão “na base”? A resposta é: porque ela poderá ser um fator decisivo na escolha do próximo presidente, em outubro de 2018.

Tudo indica que, nas eleições, teremos pelo menos uma dúzia de candidatos. Sem um centro atrator, a dispersão de votos abre uma possibilidade surpreendente: o eleito será o resultado aleatório de um lance de um “dado com 12 faces”. No segundo turno, poderemos ter de escolher, aleatoriamente, entre dois candidatos igualmente imprestáveis, mas beneficiados pela sorte.

A dramática incapacidade do Congresso de aprovar uma reforma eleitoral minimamente melhor do que a atual só vai acentuar seus defeitos (o número de partidos talvez diminua, mas não ficará abaixo de 15, e continuaremos a votar em “X” e a eleger “Y”).

O descrédito dos políticos, gerado pelo primitivo oportunismo eleitoral, transformar-se-á no descrédito da política e sugerirá “salvadores da pátria” como solução.

Apenas o reconhecimento da sociedade do relativo sucesso da atual política econômica poderá dar um “peso maior” a uma das faces do “dado dodecaédrico” e minimizar os riscos da volta ao experimentalismo tosco que continua a sugerir que o mesmo remédio produzirá efeitos diferentes.

Por Delfin Netto

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